Sunday, July 03, 2005

Deus, nozes e outras considerações

No início, Deus criou o céu e a terra e, talvez por decidir que um mundo sem jazz, abridor de lata e McLanche Feliz não teria graça nenhuma, resolveu criar o ser humano. É verdade que sua intenção inicial era colocar-nos acima do bem e do mal, mas esse andar já estava ocupado pelo departamento de Assuntos Infernais e, desde então, a sala do almoxarifado do sistema solar passou a ser chamada de Terra. Desde então, entediado das trevas, Deus ordenou que se fizesse luz, mas por conta da temporada de apagões pela qual o universo no período, Ele teve que criar o dia e, como medida econômica, a noite. Logo depois, interessado em sediar os jogos olímpicos da galáxia (que aconteciam de quatro em quatro anos-luz), Deus tentou agilizar o projeto e acabar a Terra em sete dias, mas o Comitê Olímpico Lácteo achou que ainda não havia estrutura suficiente para um evento de tamanha dimensão, até porque havia muitos vulcões em ativa na época e um dos avaliadores tinha alergia a enxofre.

A raça humana, como todos sabem, é a espécie mais inteligente do planeta, uma vez que é a única espécie capaz de refletir sobre o seu próprio reflexo, falar da própria fala e se conscientizar acerca da própria consciência, e isso tudo enquanto combina a cor da meia com a da gravata. E mais: a humanidade gosta de debater sobre física quântica, falar sobre ela na terceira pessoa e, sempre que pode, faz questão de jogar na cara dos outros animais o tal do lance dos polegares opositores (o que, modéstia dEle à parte, foi essencial para que o homem pudesse manusear ferramentas, jogar fliperamas e estourar plásticos-bolha). Inventamos o macarrão instantâneo, os programas de auditório e gostamos de tomar sopa com colher, embora estudos já tenham comprovado que o canudo, nesse caso, é muito mais apropriado para evitar queimaduras na boca.

Deus que nos fez à sua imagem e semelhança, o que torna um tanto estranho o fato de alguns de nós parecermos com Janet Reno ou com o Sr. Madruga. Concedeu-nos o livre arbítrio para que pudéssemos exercer nosso pleno direito de implantar ditaduras, entupir-nos de carboidratos ou simplesmente andar na rua com uma caixa com os dizeres "cabeça humana", mas só pela graça disso. Contudo, nada disso tira d’Ele o Cinturão de Criador, O Princípio de Todas as Coisas, o Onisciente, Onipresente, Onipotente e Tudo o Mais. Afinal, estamos falando de um cara que já acumulou em sua estante uma quantidade respeitável de prêmios, como o Grande Prêmio de efeitos especiais por todas as Grandes Guerras, a melhor intervenção divina no Festival Internacional de Milagres com o cancelamento de Baywatch e que, nos tempos vagos, ainda concorreu para Miss Divindade Via Láctea (que teria ganhado de Alá, se não fosse por aquelas duas polegadas extras no quadril).

Cara de muitos amigos, ainda mais inimigos e quatro ou cinco simpatizantes, Deus é tema de um sem-fim de fãs-clubes, sociedades secretas, grupos terroristas e, numa cidadezinha mineira, ainda dá o nome para um pequeno sex-shop atrás da vídeo-locadora da cidade. Deus é, de fato, onipresente: está no pão nosso de cada dia, na maioria das letras de pagode e no discurso de tudo quanto é político às vésperas de eleição. É verdade que, ao longo da nossa história, Deus já morreu várias vezes e de várias formas, inclusive de tanto rir com cada nova tentativa do homem em tentar achar o sentido da vida (que Ele mesmo não sabe qual é, embora tenha, nos últimos séculos, desenvolvido uma teoria de que possa ser o fato de milhões de árvores no mundo serem plantadas acidentalmente por esquilos que enterram suas nozes e não lembram onde eles as escondem). Ainda hoje muitos de nós perguntarmos se Deus realmente existe ou se Ele seria uma invenção que a humanidade criou para aliviar seu profundo sentimento de desamparo existencial, uma vez que vivemos num mundo com tanta miséria, unhas quebradas e homens que se chamam Astrogildo. Deus já foi sepultado pelos positivistas, rejeitado pelos niilistas e transformado em caixinha de dízimos pela Igreja Universal - e isso sem falar nos agnósticos, que andaram espalhando por aí que Deus teve um filho com Britney Spears só para difamar Sua imagem -, mas ainda assim continua, trocadilhos à parte, com os índices de popularidade lá nos céus. O fato é que a humanidade ainda não está preparada para se livrar d’Ele de uma vez por todas, até porque o ateísmo não tem nem tanta graça, nem tantos feriados. Ainda teremos Sua presença garantida por muito tempo em nossa vida. Ícone pop por excelência, Deus estará sempre conosco no planeta que nos arrendou para que reinemos soberanos, até que um dia um garoto canadense esqueça de dar a descarga na escola e, por algum motivo fora de qualquer compreensão possível, este fato desencadeie uma cadeia altamente improvável de acontecimentos que resultará na invasão do planeta pela raça alienígena Ordnave, que detestará cada pedacinho de matéria terrestre, com exceção de pretzels (que os lembrariam da forma de seu planeta de origem) e do cabelo da Cher (para isso, não haveria qualquer tipo de explicação lógica). Amém.

11 comments:

Anonymous said...

Caramba, Elb., que texto legal! E, um ateu assumido, confesso que repensei toda a minha (falta de) fé!!! Muito foda! Bjs

Anonymous said...

Oi Anna! E ai?! Voce lembrou do pannetone e eu lembrei de voce no pátio do Bennet em uma posição "muito confortável" ... Realmente precisamos nos encontrar...Ria bastante com todos juntos, Beijos para voce e todos que ainda tem contato.

Anonymous said...

Oi Anna....nao preciso falar que o texto foi o melhor que vc escreveu até agora! Me dá mto orgulho saber que temos uma história!!!!!!

Anonymous said...

Sem dúvida os feriados são a maior causa de Deus não ter desaparecido da mente humana, é uma exelente explicação. Você só esqueceu da acirrada disputa entre o todo poderoso Deus e o revolucionário e ateu Che Guevara pelo título de maior ícone pop da história. beijos querida!!!

Anonymous said...

eu não repensei minha falta de fé, mas encontrei uma ótima compensação para a existência da igreja católica (me desculpe os cristãos, sinceramente) q certamente não deveria existir(eu não gosto de radicalismo,mas... religião tem mais contras q prós): feriados - q leva a viagens - q leva a...

Anonymous said...

Na boa... eu sou ateu... mas convenhamos que o departamento de marketing e propaganda do cara eh bom pra caralho... E sobrevive a várias crises de roupagem nova.... Deus proibia os juros... aih permitiu... Ainda verei Deus dizer que dependendo da situação o aborto e o casamento gay são legitimos... ele não, o departamento responsável

Anonymous said...

Nietzche (é assim? sempre confundo) matou Deus, pobrezinho, e Ele agonizou por sete dias.

Anonymous said...

è. Deus é dez. Romário é 11...e aquela estória toda que a gente jah conhece desde que é criança. A pergunta que não quer calar é? Deus criou o mundo em sete dias? Não foi em 6? o sétimo ele não descansou? 2ª) O sr. Madruga é Deus? essa eu não entendi, pode explicar de novo?

Anonymous said...

poxa... eu naum vou ficar falando sobre fé, sobre meu ponto de vista em relação a essa história, nem sobre religião, mas sim te elogiar.Poxa parece uma crônica de jornal mesmo, fantástico, vc escreve muito bem, e realmente consegue fazer com que fiquemos refletindo sobre o tema. É isso: vc ta de parabéns e com certeza vai ter uma carrera brilhante como jornalista!! bjaum !!!!!! Re (ou Pizza né.. fazer oq?) rs...

Anonymous said...

hahaham, muito legal anna.. mas perdoe-me a ingnoracia, assim como a chatice, kd as nozes?!? bjus menina!

Anonymous said...

Caraca! Até a pizza...