Saturday, November 19, 2005

Eu acho que é isso que eles chamam de blues

Aprendi muito com quem não sabia nada. Mais ainda com quem conhecia porra nenhuma. O filme ainda nem começou, os óculos-quadrados-de-armação-preta tomam aos poucos o contra-campo e algumas moçoilas metidas em rouptichas dentro do fora da moda discutem em godardês um Trufô sabor nouvelle-vague. Por que algumas pessoas preenchem o requisito de supermaravilhosas, enquanto outras você tem vontade de acaçapar no bolso esquerdo da calça de strecht de J-Lo pruma partida de dança das cadeiras?

Adestro a pulga atrás da orelha e me volto pra tela. No pontapé do começo: é francês e vai mudar a minha vida. No mesmo instante capto com o rabo do olho um garoto magrinho e inquieto, com ares de quem boghobou três listras para o seu casaco-espetáculo, e rimos à beça, talvez por perceber que a vida não tem sentido se você for a décima-quinta linha de uma biografia da Paris Hilton, mas principalmente ao descobrir que ainda mais improcedente, for the average man, seria dividir sua kitschnette com ecce homo tão high-profile na statusfera da boiolindiece cultural do Homo cinefilus (A Tangerina, in: Hang the writer, 2005, dadá).

Masscult? Indústria Cultural? Audiência infantilizada? Cultura de pastiche? Adorno de touquinha entonando aaaaaaaau bái mái céeelfff? Nem sombra, nem dúvida. Toda a ação se passa às favas com qualquer qüiproquó popular que não calhe de virar o darling da vez dessa inteligentzia de cabelo meticulosamente desgrenhado e cérebro mais ainda. Ou seja: explico. Porque é claro que todo homem se comporta de acordo com o que é esperado dele. Existem pessoas dotadas com a capacidade ímpar de chacoalhar ‘e’ rolar com uma leitura de Horkheimer e pular carniça ao mesmo tempo. Outras, por sua vez, permanecem condenadas a ter uma vida sexual.

Lá no fundo da caixola, a ponderação bate e fica pra jantar. Ainda que a contra-gosto, aceito a convidada e troco a magia a dois, o menáge a três e o diabo a quatro do cinéma de Godard e cia. pelo charme discret de la indieoisie esparramada do lado de cá da tela. Pois sim. Alguém deveria fazer uma religião para ela. Criar modalidade olímpica. Deduzir do imposto de renda. Sim, bâibe! She’s trying too hard. Quase engana com o suspensório do vovô, os sapatos Karl Marx e essa manha trendy, cult, unique, cool, marginal, hype, supermaravilhosa que nem te conto.

Nunca levo um intelectual a sério. O problema é que eles se levam. Que joguem a primeira pedra, a lenha, os buttons, o uísque sem gelo, o sal, a calça xadrex pro lado de lá e cabelos ao vento rebentando no frug da pseudo-intelectualidade. Que digam em setecentas laudas o que poderia ter sido dito em uma sílaba sem ponto-e-vírgula com exclamação – sem deixar faltar chá. Sob a ameaça das bofetadas da metalinguagem, a autora consente: era o fim do mundo como nós o conhecíamos. Quem sabe, cala. Quem não sabe, dá aula. Quem não sabe dar aula, cria um blógui. Ah, ecce homo!