Thursday, June 29, 2006

Seu nome era João e João só se fudia

Não que ele procurasse pelos problemas. Os problemas é que procuravam por ele. O rapaz, no entanto, não esquentava a cabeça. Nunca achou que o universo fosse o lugar mais apropriado para se nascer, mas não era como se não gostasse de estar ali. Porque João era um crédulo, e dos mais fervorosos. Sempre acreditou que havia algo de especial na Terra, pelo qual valia a pena viver por. Sexo e mulher. Sexo com mulher. Nos dias de sorte. Por mais simplória que fosse, a arte da existência definitivamente era a obra que mais o agradava.

Foi uma matrona, a primeira puta que João comeu. Tinha sete vidas, cinco dentes e pelo menos algumas doenças venéreas. Uma matrona e também sua primeira mulher. Ele tinha dezesseis anos quando começou a se fuder justamente por fuder com os outros. Pouco tempo depois, ainda garoto, se resolveu por sempre olhar por onde andava. Não comia nada sem conferir o prazo de validade. Cada compota. Cada filé. Cada cu. Sua dívida com o decoro era eterna.

Os amigos logo recriminaram o xiitismo aplicado no dia-a-dia, mas João não salgou o cu doce. Se decidiu por ir ter com a vida sozinho. Sozinho e incorruptível. Viver era uma profissão de risco. Virou um guardião da boa causa e dos bons costumes. Se todo mundo tinha duas personalidades, por que usar a mais feia? Aos poucos, foi parando de dar o ar de sua desgraça nas cercanias. Passou a criar galinhas, e cabritos, e vergonha na cara. Recusava todos os convites para as festas da cidade. Em breve, sequer os receberia. Era um cara novo. Novo e durão. O mais durão.

Mas João não era feliz assim. Se vegetariano, seu subconsciente mataria por um rosbife. Nenhuma punheta era capaz de satisfazer mais de uma cabeça ao mesmo tempo. Além disso, viver passou a ter tanta graça quanto uma trupe de 17 gordas fazendo hidroginástica: só divertia os espectadores. Todos da pequena cidade onde morava o tinham como um louco, um demente e um alucinado. Dia após dia besuntado pelo preconceito daqueles porcos simplórios por todo canto em que passava. O que só fazia João se afastar mais e mais à procura de algo que nunca soube exatamente o que era. Procurou independência, mas achou solidão, e também verrugas no saco. O Pau Mais Solitário do Mundo.