Friday, March 24, 2006

The one where Cinderela gets high

Jantou meio pacote de Camel, vestiu a melhor calcinha (preta) e saiu pelas portas do castelo para nunca mais voltar. Era Leary na veia, ha-ha, ela tava numa boa, numa marola que só na onda do ácido, uma parada maneira que a Bela Entorpecida havia repassado na noite anterior. Esse era dos fortes, uia, os efeitos apareciam sem convite e não demorou muito para que todos os convidados do baile virassem a bunda da rainha Eliza Béti, a Feia discursando sobre o tipo de bagulho que afinal deixara o Príncipe tão Encantado, merda merda merda de droga barata...

E puta meu, só com meiota e já estava über high naquela noite. Agora tanto fazia. Mais meia hora e começaria a ouvir tudo quanto é tipo de merda em óffi (na certa um sósia vocal do Armandinho, aquele babaca) com ratos falantes que a aconselhariam a partir por aí antes que sua alma se resolvesse por sair do corpo para dar um telefonema. Enfim, um ponto eles tinham, podia ser uma boa e smack smack, distribuiu dois beijinhos nas amigas e cambaleou um pouco pelas ruas do reinado até o primeiro beco, onde topou com a hippie doidona da Rapunzelda. Resolveu parar pra levar um papinho.

As duas se olharam, trinta segundos de silêncio, o que não é nada para um viciado (“o tempo não existe, no duro!”). Rapunzelda fez uma pausa significativa, passou a mão pelas longas madeixas e acendeu um baseadinho da paz. Respirou fundo e, com a mão pousada no ombro da garota, confessou-lhe uma cousa que só ela e o Grilo Fumante sabiam: Cinderela era uma personagem de ficção.

A jovem partiu desabalada com a notícia e, como se não bastasse, sentindo os efeitos do ácido martelando em cada pedacinho do seu corpo, como se todas as suas células tivessem topado um campeonato de ula-ula tirolês e estivessem agora a caminho da finalíssima, Honolulu, 2006. Sentiu vontade de morrer. Sentiu vontade de matar. Engarrafada na via das dúvidas, decidiu-se por voltar e dar um tapa no bagulho de Rapunzelda; aquela história precisava ser esclarecida, enfim. Agora. Seu mundo estava destruído, sua verdade, nua (ou essa era ela?) e pensando bem, seria a realidade tão terrível? Não, não se você estivesse apropriadamente vestida para ela. Coisa que não estava.

(...) foda-se, foda-me, sentiu de vontade de perder a linha, o novelo, de perder um tapete voador inteiro para esquecer aquela merda. Um, dois tragos mais tarde e deu adieu adieu para a hippie chapada. Decidiu partir pra sempre: hasta la vista, baby, era isso. Precisava encontrar o Sentido da Vida, contado com bonequinhos de Playmobil, trilha sonora by Wander Wildner e o caralho. Entrou no bar no melhor estilo faroeste e mirou sua primeira vítima à moda Robocop, tu tu tu, macho, tu tu tu, 28, tu tu tu, no balcão, o coitado: cabelos desgrenhados, olhar de louco e um enorme cartaz que dizia CHIFRADO, basicamente. Mas negou colo e fumo, o puto. Não gostava da fruta.

- Viado do tipo não-mulher? Mesmo?
- Ha, ha. É, er, desconfio que sim.
- Nem aos domingos?

Sentiu vontade de mandar enfiar a porra do cartaz num lugar onde o sol não bate mas refreou, papo manso. Conversaram a noite toda, se deram bem. Decidiram fazer um fedelho (dividiriam meio-a-meio) na noite seguinte e o primeiro choro seria o código para o ataque das Panteras. Hoje ele se chama Armandinho, aquele babaca. A cara do pai.

2 comments:

Anonymous said...

Jantar meio pacote decamel. Doidaça de ácido. Baseadinho da paz.

Posso contar essa estória pra filha de uma colega minha na Aliança? A guria é primeira cria de mãe-neurótica-executiva-advogada que olha com maus olhos até cerveja sem alcóol. Merece, vá.

Anonymous said...

Seu blog é muito foda, mesmo! Dá de mil à zero na maioria...

Achei importante encher teu ego, hahaha.